Fátima da Silva - em prosa e verso

A poesia me transforma. Ler poesia é transformar a alma em música.

Textos

EU MORRI?
Eu tinha uns seis anos. Minha prima e eu adorávamos brincar de casinha. Enfeitávamos tudo. Arranjávamos flores, panelinhas, e mais um monte de coisas que se deve ter em uma casa.
Quando o assunto era as plantas, ficava tudo por minha conta.
Não tínhamos noção de perigo. A nossa casa era em um bairro da periferia de Curitiba. Loteamento novo. O terreno ainda não era cercado, melhor assim, tínhamos muito mais espaço para brincarmos. E brincávamos. Era bom demais.
Mas o que vou relatar aconteceu mais ou menos assim:
Sábado, minha mãe passava roupas, meu pai no trabalho, meu irmão, acho que estava brincando também, não me recordo ao certo, só sei que não estava comigo. Se por um acaso ele estivesse... nada teria acontecido, meu irmão sempre foi meu anjo protetor.
Minha prima e eu, despregamos a tampa do poço, isso mesmo, do poço. As melhores plantinhas estavam lá, dentro do poço. Após abrirmos, entrei pela lateral para arrancar as mudinhas que nasciam na parte sem tijolos do poço; poço esse que retirávamos a água que era usada na casa.
Minha prima vigiava, eu.... já falei, arrancava as mudinhas. Nossa casinha ficaria linda.
Aí, tudo aconteceu... eu caí no poço.
Recordo-me dos gritos. Não sabia quem gritava mais, se minha mãe ou minha prima. Conseguiram me tirar do poço com vida...
Olha que interessante:
Quando eu caí, não caí na água. Eu adentrei na parede entijolada do poço. Isso mesmo! Abriu diante de mim uma parede e eu caí, sem me machucar, na areia. Uma areia super macia.
O lugar onde eu estava era lindo. Muito verde, água corrente, fresquinha, uma brisa aconchegante. Não tive medo. Sério!!! Eu estava sozinha, mas não tive medo. Eu corria pra lá e pra cá. Não senti fome, frio, nada disso. Nem vontade de ir ao banheiro... foi incrível.
De repente, eu ouvi minha mãe. Ela me chamava. Dizia que queria que eu voltasse e chorava...
Eu disse a ela que eu estava bem, que eu não queria voltar,; ela não me ouvia. Ela disse para eu segurar a mão dela. Eu tentei segurar, mas não achei.
Continuei ouvindo a voz da minha mãe e o fato de ela não me ouvir, fez com que eu ficasse desesperada.
- Mãe, estou aqui.
- Mãe, estou aqui.
O meu choro tornou-se soluço. Eu queria a minha mãe.
Depois, não ouvi mais nada. Eu dormi. Dormi naquela areia macia. Tive frio. Simplesmente dormi.
Fátima da Silva
Enviado por Fátima da Silva em 11/05/2016
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