O MONSTRO
Meu irmão e eu sempre fomos muito unidos. Tipo unha e cutícula. Amigos para sempre, assim prometíamos uma para o outro enquanto ainda crianças.
Meus pais eram pobres, pobres de marre de si. Entretanto, super, hiper, felizes. Isso já bastava. Nós tínhamos uns quatro ou seis anos, ou quatro e seis anos. Obedecíamos a mãe e acreditávamos nela cegamente. Nesse acreditar incluía a seguinte história: “Cuidado com o seu João, ele é um monstro!!! - Como assim??? Um monstro???? - Ele bate na mulher, quem bate na mulher é um monstro... Na nossa cabeça, ele era um monstro real, não era uma metáfora. Enxergávamos nele, um monstro horrível. A esposa deste homem, não tinha uma perna. Os médicos precisaram amputá-la depois de ela ser mordida por uma cobra. Mesmo trabalhando muito, cuidando dos filhos, do marido, da casa e coisa e tal, a vizinha era agredida constantemente por aquele monstro que ela chamava de marido. Em uma manhã, nossa mãe cuidava da horta e o Monstro aproximou-se dela. Meu irmão e eu brincávamos no quintal, perto de nossa mãe. O instinto de proteção à mãe em perigo, falou mais alto e o plano foi formado rápido. - Você bate com a enxada na canela dele e eu, que sou maior, dou uma martelada na cabeça dele. Plano arquitetado. Chegamos perto e ficamos observando. Prontos para agir, caso fosse necessário. Não foi necessário. Ele queria alguma coisa emprestado. A mãe emprestou e ele foi embora. Mas continuamos atentos e vigilantes. Na ausência do nosso pai, sentíamos na obrigação de defendermos a nossa família. O pai trabalhava em outra cidade. Nós o víamos somente a cada quinze dias. Os dias com ele em casa eram fantásticos. Nos divertíamos pra valer. O inusitado aconteceu: Estávamos, à noite, na casa de uma vizinha. Nossa mãe foi até lá para passar as roupas da vizinha. Enquanto ela passava as roupas e conversava, nós ouvíamos histórias no rádio. Era cada história... Conversa vai, conversa vem....ficou muito tarde. - Vamos para casa, já é muito tarde. Obedecemos sem questionar. A rua estava muita escura. A única luz que tínhamos, era a luz da lua. Estava linda, perfeita, maravilhosa, encantadora. Encantadora? Não! Aterrorizante!!! Estávamos indo para casa, numa boa e de repente: - Corram, Léo, Leia, corram, o seu João virou monstro. – a mãe repetia. Ela pegou nossa irmãzinha no colo e já correndo gritou novamente: - Corram.... rápido. Meu irmão e eu paramos. Queríamos ver o seu João transformado em monstro. Paramos e ficamos procurando... A nossa curiosidade quase tirou nossas vidas. O monstro estava a menos de dez metros de nós. Foi um grito de horror que soltamos juntos. O monstro realmente era enorme. Olhos grandes, vermelhos, orelhas enormes, língua gigantesca. Nunca corremos tanto como naquele instante. Na entrada de nossa casa, havia um portãozinho, para nossa irmãzinha não sair, e eu tinha a maior dificuldade em pulá-lo. Mas,... o medo realmente nos transforma, eu pulei como um raio aquela muralha. Quando fechamos a porta, o monstro passou, corria como um louco. Conseguimos escapar. Nossa mãe fez com que nos ajoelhássemos e pedisse que Deus nos protegesse, pois o monstro ficaria rondando nossa casa. Precisamos de proteção. Novamente meu irmão e eu entramos em ação. Ficamos a noite inteira acordados. Vigiando. Pela manhã, tudo bem, tudo normal, menos para nós que sabíamos o que estava acontecendo na vizinhança. O nosso vizinho era mais do que um monstro: ele era um lobisomem.
Fátima da Silva
Enviado por Fátima da Silva em 13/05/2016
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